Formação
e desenvolvimento das Comunas Italianas
Entre os
séculos XI e XV, pode-se dizer que a Península Itálica permaneceu, na Europa Ocidental, em termos económicos, como um
dos locais mais avançados de sua época. O comércio e o artesanato haviam
sobrevivido as conjunturas da Alta Idade Média e a vida urbana não se extinguiu
totalmente, como acontecera em muitos locais do resto da Europa, o que ajudou
no seu rápido crescimento económico. O comércio de trânsito se desenvolveu a
partir do século X, quando se viram livres das invasões Húngaras e mais tarde
árabes e, foi ainda mais favorecida com o progresso económico que começara no
resto da Europa Ocidental a partir do século XI, com uma procura cada vez maior
de géneros provenientes do Oriente, fazendo crescer o processo de exportação
através do Mediterrâneo. Também, o artesanato urbano conheceu um
desenvolvimento intenso. De princípio, Veneza fora a principal cidade,
conseguindo vasto privilégio comercial de Bizâncio, ultrapassando, assim,
Amalfi e, em breve, o comércio interno da Península passaria para as zonas
fluviais, em especial, para aquelas regiões banhadas pelo rio Pó.
Como em todo o restante território da Europa, as
cidades do Norte e do Centro da Itália, foram em principio submetidas ao julgo
senhorial, que com o contributo dos imperadores germânicos, desde Otão I, deram
plenos poderes aos bispos – (maioritários senhores nesta parte da península).
Porem, como o melhor desenvolvimento das cidades estava
ligada a liberdade em relação ao poder senhorial, a luta por este objectivo
teve início no século X em Génova e outras cidades, tendo seu maior
significado no século XI e XII, onde, na região da Lombardia apareceram as
primeiras Comunas independentes: Lucca, Florença e outras cidades da Toscana.
Foram subjugando, ao longo
dos séculos XI e XII, os grandes senhores que habitavam ao redor das cidades – Condado – e em seguida, alargaram seus
domínios para as cidades vizinhas que tinham menos poder aquisitivo, fazendo nascer as cidades-estados sob poder da cidade maior.
As comunas urbanas eram administradas por
colégios de cônsules eleitos ordinariamente por um ano, tendo poderes
administrativos e legislativos. Os integrantes deste, eram representantes dos
três grupos sociais urbanos: os notáveis – («capitães do povo»), os valvassore(1), e os mercadores ricos. Estes eram destacados pela sua riqueza ou posição social.
Esse Valvassore, residindo nos meios urbanos, começaram a se destacar nos negócios usurários,
obtendo, no século XI, do Imperador Conrad II o privilegio de hereditariedade
por linhagem masculina, ajudando no desaparecimento progressivo dos pequenos
feudos e, no aparecimento de uma nova classe social nas cidades – os Cavaleiros
– compostos por pequenos e grandes senhores feudais.
Dos
séculos XII e XIII, as cidades italianas conheceram seu auge. As cruzadas proporcionaram novos portos
de relação comerciais e ainda mais riquezas que vinham de todas as partes,
incluindo, daqueles que seguiam para a Terra Santa. Primeiro as cidades do
litoral, seguidas rapidamente pelas cidades do interior, empreendedoras do
comercio artesanal. Florença ficara famosa, sobre tudo, pelos seus tecidos
finos.
O desenvolvimento económico avançado nesta
região da Europa Ocidental, também, levou a inúmeros conflitos causados por
interesses comerciais entre Comunas.
Interesses económicos levaram a que o Norte e Centro da Península Itálica, fossem palco de inúmeras batalhas entre estas cidades-estados, que só cessariam por um tempo, com vista a resistir a investida do Império Alemão. Constituiu-se assim a Liga Lombarda, para tentar abrandar os avanços de Frederico I. Porém, esta liga não contava com a integração de muitas cidades. Formaram-se partidos que apoiavam um poder autónomo, no qual repudiavam o poder central no Imperador – Guelfo (derivado do nome Welfs, inimigos dos Hohenstaufen na Alemanha), e o partido dos Ghibellino (derivado dos Weiblingen, nome de um dos castelos de Hohenstaufen), que apoiavam o Imperador como poder central.
Interesses económicos levaram a que o Norte e Centro da Península Itálica, fossem palco de inúmeras batalhas entre estas cidades-estados, que só cessariam por um tempo, com vista a resistir a investida do Império Alemão. Constituiu-se assim a Liga Lombarda, para tentar abrandar os avanços de Frederico I. Porém, esta liga não contava com a integração de muitas cidades. Formaram-se partidos que apoiavam um poder autónomo, no qual repudiavam o poder central no Imperador – Guelfo (derivado do nome Welfs, inimigos dos Hohenstaufen na Alemanha), e o partido dos Ghibellino (derivado dos Weiblingen, nome de um dos castelos de Hohenstaufen), que apoiavam o Imperador como poder central.
Apenas
mais uma razão de conflito para as cidades que queriam manter sua
independência, contava, também, muitas vezes, com questões pessoais, arraigada
no pensamento feudal, que as famílias que haviam se estabelecido na cidade traziam,
como a tradição da “vendetta”2.
Estas mesma querelas pessoais que ajudaram na ascensão de um novo grupo social:
os popalani(3) , que se uniram em sociedades e corporações para
lutarem por interesses comuns e se apoderarem de cargos administrativos.
1 Valvassore eram nobres destacados de feudos.
2 Vendetta: Vingança particular que muitas vezes só terminava com o extermínio de
um clã/família.
3 Popolani: força política dos
artesãos e pequenos comerciantes.
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Florença, no século XIII.
No decorrer do século XIII, Florença, onde o artesanato era particularmente prospero, os popolani derrotaram os notáveis desde 1250, se apoderando da administração e criando no seio da “Grande Comuna”, uma “pequena comuna” com um “capitão do povo” a frente do poder. Florença passava a ser uma das mais ricas Comunas da Península. Era detentora do monopólio dos empréstimos feitos pela Cúria Pontifícia, ajudando no desenvolvimento da cunha da moeda de ouro e lei – Florim.
O «povo gordo», representantes
das sete Artes Maiores(4), as mais ricas - tecelões e cambistas - concentraram, desde 1282, o poder em suas mãos. Das “Instituições da Justiça”,
os
grandes, vencidos, foram despojados dos seus direitos cívicos. De qualquer delito que cometessem, eram
aplicadas altas multas, mesmo se fosse limitado por palavras arrogantes ou
insolentes dirigidas às autoridades da cidade.
Às camadas mais baixas da
população, era negado o direito político.
Mais tarde, o conflito
dentro da cidade tomou duas direcções: o «povo gordo» opunha-se aos grandes e, ao
mesmo tempo, combatia o «povo magro», ligados as Artes Menores(5),
expulsando-os do poder.
Entre este conflito, como
acontecia ao longo das outras cidades nestes dois séculos, Florença se debatia
com a questão de sua independência e, o conflito entre os Guelfos e os Ghibellinos.
Na segunda metade do século XIII, alianças são formadas entre cidades rivais ou
com príncipes armados. A vitória é raramente total. Os exilados e o ciclo de
violência disturba a cidade: aristocratas do lado Ghibellino, com o Imperador Germânico a cabeça, enquanto os Guelfos se pões ao serviço dos príncipes
para tentar manter sua independência, encabeçado pelo governante espiritual, o
Papa e um chefe militar: o rei da Sicília.
A oposição destes dois partidos, trás a tona
ódios familiares e entre cidades. Desta forma, em Florença, os acontecimentos
políticos entre aristocracia e povo eram camuflados pela segunda razão dos dois
blocos rivais – (os Guelfos e os Ghibellinos).
4 Artes Maiores: ligadas a arte dos mercadores, do cambio, da lã, da seda, da pele, dos
médicos, juízes e notários.
5 Arte Menor: no total são catorze, que englobam os sapateiro,
fabricantes, mestres de pedra e madeira, vinhateiros, albergueiros, ferreiros,
marceneiros, etc.
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