terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A Península Itálica na Baixa Idade Média


Formação e desenvolvimento das Comunas Italianas 


      
        Entre os séculos XI e XV, pode-se dizer que a Península Itálica permaneceu, na Europa Ocidental, em termos económicos, como um dos locais mais avançados de sua época. O comércio e o artesanato haviam sobrevivido as conjunturas da Alta Idade Média e a vida urbana não se extinguiu totalmente, como acontecera em muitos locais do resto da Europa, o que ajudou no seu rápido crescimento económico. O comércio de trânsito se desenvolveu a partir do século X, quando se viram livres das invasões Húngaras e mais tarde árabes e, foi ainda mais favorecida com o progresso económico que começara no resto da Europa Ocidental a partir do século XI, com uma procura cada vez maior de géneros provenientes do Oriente, fazendo crescer o processo de exportação através do Mediterrâneo. Também, o artesanato urbano conheceu um desenvolvimento intenso. De princípio, Veneza fora a principal cidade, conseguindo vasto privilégio comercial de Bizâncio, ultrapassando, assim, Amalfi e, em breve, o comércio interno da Península passaria para as zonas fluviais, em especial, para aquelas regiões banhadas pelo rio Pó.

Como em todo o restante território da Europa, as cidades do Norte e do Centro da Itália, foram em principio submetidas ao julgo senhorial, que com o contributo dos imperadores germânicos, desde Otão I, deram plenos poderes aos bispos – (maioritários senhores nesta parte da península).

Porem, como o melhor desenvolvimento das cidades estava ligada a liberdade em relação ao poder senhorial, a luta por este objectivo teve início no século X em Génova e outras cidades, tendo seu maior significado no século XI e XII, onde, na região da Lombardia apareceram as primeiras Comunas independentes: Lucca, Florença e outras cidades da Toscana.

Foram subjugando, ao longo dos séculos XI e XII, os grandes senhores que habitavam ao redor das cidades – Condado – e em seguida, alargaram seus domínios para as cidades vizinhas que tinham menos poder aquisitivo, fazendo nascer as cidades-estados sob poder da cidade maior.


As comunas urbanas eram administradas por colégios de cônsules eleitos ordinariamente por um ano, tendo poderes administrativos e legislativos. Os integrantes deste, eram representantes dos três grupos sociais urbanos: os notáveis – («capitães do povo»), os valvassore(1), e os mercadores ricos. Estes eram destacados pela sua riqueza ou posição social.

Esse Valvassore, residindo nos meios urbanos, começaram a se destacar nos negócios usurários, obtendo, no século XI, do Imperador Conrad II o privilegio de hereditariedade por linhagem masculina, ajudando no desaparecimento progressivo dos pequenos feudos e, no aparecimento de uma nova classe social nas cidades – os Cavaleiros – compostos por pequenos e grandes senhores feudais.

Dos séculos XII e XIII, as cidades italianas conheceram seu auge. As cruzadas proporcionaram novos portos de relação comerciais e ainda mais riquezas que vinham de todas as partes, incluindo, daqueles que seguiam para a Terra Santa. Primeiro as cidades do litoral, seguidas rapidamente pelas cidades do interior, empreendedoras do comercio artesanal. Florença ficara famosa, sobre tudo, pelos seus tecidos finos.

O desenvolvimento económico avançado nesta região da Europa Ocidental, também, levou a inúmeros conflitos causados por interesses comerciais entre Comunas. 


Interesses económicos levaram a que o Norte e Centro da Península Itálica, fossem palco de inúmeras batalhas entre estas cidades-estados, que só cessariam por um tempo, com vista a resistir a investida do Império Alemão. Constituiu-se assim a Liga Lombarda, para tentar abrandar os avanços de Frederico I. Porém, esta liga não contava com a integração de muitas cidades. Formaram-se partidos que apoiavam um poder autónomo, no qual repudiavam o poder central no Imperador – Guelfo (derivado do nome Welfs, inimigos dos Hohenstaufen na Alemanha), e o partido dos Ghibellino (derivado dos Weiblingen, nome de um dos castelos de Hohenstaufen), que apoiavam o Imperador como poder central.

Apenas mais uma razão de conflito para as cidades que queriam manter sua independência, contava, também, muitas vezes, com questões pessoais, arraigada no pensamento feudal, que as famílias que haviam se estabelecido na cidade traziam, como a tradição da “vendetta2. Estas mesma querelas pessoais que ajudaram na ascensão de um novo grupo social: os popalani(3) , que se uniram em sociedades e corporações para lutarem por interesses comuns e se apoderarem de cargos administrativos.


1 Valvassore eram nobres destacados de feudos.
2 Vendetta: Vingança particular que muitas vezes só terminava com o extermínio de um clã/família.
3 Popolani: força política dos artesãos e pequenos comerciantes.



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Florença, no século XIII.



No decorrer do século XIII, Florença, onde o artesanato era particularmente prospero, os popolani derrotaram os notáveis desde 1250, se apoderando da administração e criando no seio da “Grande Comuna”, uma “pequena comuna” com um “capitão do povo” a frente do poder. Florença passava a ser uma das mais ricas Comunas da Península. Era detentora do monopólio dos empréstimos feitos pela Cúria Pontifícia, ajudando no desenvolvimento da cunha da moeda de ouro e lei – Florim.

O «povo gordo», representantes das sete Artes Maiores(4), as mais ricas - tecelões e cambistas - concentraram, desde 1282, o poder em suas mãos. Das “Instituições da Justiça”, os grandes, vencidos, foram despojados dos seus direitos cívicos. De qualquer delito que cometessem, eram aplicadas altas multas, mesmo se fosse limitado por palavras arrogantes ou insolentes dirigidas às autoridades da cidade.

 Às camadas mais baixas da população, era negado o direito político.

Mais tarde, o conflito dentro da cidade tomou duas direcções: o «povo gordo» opunha-se aos grandes e, ao mesmo tempo, combatia o «povo magro», ligados as Artes Menores(5), expulsando-os do poder. 

Entre este conflito, como acontecia ao longo das outras cidades nestes dois séculos, Florença se debatia com a questão de sua independência e, o conflito entre os Guelfos e os Ghibellinos. Na segunda metade do século XIII, alianças são formadas entre cidades rivais ou com príncipes armados. A vitória é raramente total. Os exilados e o ciclo de violência disturba a cidade: aristocratas do lado Ghibellino, com o Imperador Germânico a cabeça, enquanto os Guelfos se pões ao serviço dos príncipes para tentar manter sua independência, encabeçado pelo governante espiritual, o Papa e um chefe militar: o rei da Sicília.

A oposição destes dois partidos, trás a tona ódios familiares e entre cidades. Desta forma, em Florença, os acontecimentos políticos entre aristocracia e povo eram camuflados pela segunda razão dos dois blocos rivais – (os Guelfos e os Ghibellinos).

4 Artes Maiores: ligadas a arte dos mercadores, do cambio, da lã, da seda, da pele, dos médicos, juízes e notários. 
5 Arte Menor: no total são catorze, que englobam os sapateiro, fabricantes, mestres de pedra e madeira, vinhateiros, albergueiros, ferreiros, marceneiros, etc.










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