terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A vida de Dante Alighieri


Descendente de Cavaleiro, Dante Aliguieri nasceu no ano de 1265, em Florença. Sua mãe morreu quando ainda era novo. Aos nove anos encontrou Beatriz Portinare, cerca de um ano mais nova que ele, e é a ela que empreende um amor cortês, a quem dedica, posteriormente, quase todas suas obras: canções, baladas e sonetos. Beatriz é a fonte de sua inspiração até depois de sua morte. Outras mulheres, ainda, passaram por sua vida após Beatriz, cantadas por este em seus versos, sem nunca lhes identificar directamente.
Casou com Gemma Donati, com quem teve dois filhos. Porém, esta nunca fora citada como sua musa.
No que toca a vida política, seguiu os passos do pai e permaneceu com o pensamento dos partidários dos Guelfos. Nos finais do século XIII, os interesses dos dois grupos – (Guelfos e Ghibellinos) - se misturaram aos interesses internos da cidade, especialmente aqueles económicos que favoreceram a divisão entre a antiga nobreza e a ascendente camada urbana ligada ao comércio e, ainda dentre estes, os de maior e menor poder aquisitivo. Assim, com as intervenções do Papa Bonifácio VIII, por um lado, e do imperador germânico Enrique VII por outro nas questões internas de Florença, tornaram-se bastante comuns a fins do duecento e início do trecento, com vista a defenderem seus interesses junto a um grupo local e, assim, construindo as bases de apoio para suas pretensões hegemónicas. É neste mesmo período, que nesse mesmo primeiro bloco – (Guelfos) - se encontram duas facções denominadas Guelfos Branco(7)e Ghelfos Negros(8).
Dante se faz activo na vida política de sua cidade como membro da facção dos Guelfos Brancos. Se inscreve no grémio dos boticários, pois os nobres sem profissão eram excluídos da vida política, intervindo nos conselhos, sendo embaixador em S. Giminignano. É membro do conselho que exerce a magistratura suprema de sua cidade, em meados de 1300.
Mas sua influência política é descartada quando em 1301, a facção negra dos Guelfos, com a ajuda de Carlos de Valois, tomam o poder de Florença. Dante estava fora da cidade como embaixador perante Bonifácio VII, sendo determinado seu exílio antes que pudesse voltar a sua cidade.
É no exílio que se alia as armadas dos Guelfos Brancos e Ghibellinos que marcham de volta a sua pátria. Compartilhará da vontade deste grupo de homens entre 1302 e 1304. Encontrará força entre 1311 e 1313, pela expedição do Imperador Enrique VII, mas que por fim não passará de uma ilusão.

De sua formação pouco se sabe, além do que o próprio autor descreve no Canto XV do Inferno:

“(…)Cosi adocchiato da cotal famiglia,/Fui conosciuto da un, che mi prese/Per lelembo e gridò: «Qual maraviglia» (…) «Siete voi qui, ser Brunetto?»/ E quelli: «O fighiuol mio, non ti dispiaccia/ Se Brunetto Latino un poco teço/ Ritorna ‘n dietro a lascia andar la traccia» (…) «(…)la cara e buona imagine paterna/ Di voi quando nel mondo ad ora ad ora/ m’insegnavate come l’uom s’etterna(…)»(...)”(9)

O poeta declara ter aprendido com Brunetto Latini, “a maneira que o homem tem para se fazer eterno”. O que pode ser identificado como professor de arte literária, grande perpetuador de alma, pois que o dito mestre é um condenado no inferno, não tendo razão de ser um mestre de moral. Parece ser um grande conhecedor da literatura de Aristóteles, Cícero e Boécio demarcados na obra Convívio. Atraído pela erudição e filosofia frequenta as escolas religiosas e as disputas dos filósofos. Por sua concepção literária de A Divina Comédia, leva a crer que poderá ter frequentado a escola dominicana de Santa Maria Novella ou o ensino franciscano de Santa Croce – (porém não passa de meras teorias, por ligação com a analise moral de suas obras principais).
Parece evidente que sua primeira formação vem da linguagem vulgar dos poetas toscanos.
Também, presente em suas obras estão informações sobre o contacto de Dante com alguma literatura ou poesia latina como, Estácio, Virgílio, Lucano e Ovídio, estando estes poetas ligados no ensino de Bolonha na época em que Dante compõe a obra Convívio, precisamente nesta cidade. Presume-se que tinha conhecimento completo da obra Eneida.
Acredita-se que a retórica e a poética devem ter entrado mais tarde na formação intelectual de Dante.
Dante, por sua vasta cultura fora recebido em diversos períodos na corte de Escalígero de Verona. Também conseguira pousada em Bolonha e Lucca, onde viveu muito tempo.
Seu último anfitrião fora Guido de Polenta, senhor de Ravena, onde morreu em 1321.   

7 Guelfos Negros (Guelfi Neri): liderados por Corso Donati. De certa forma, eram ligados aos Ghibellinos.
8 Guelfos Brancos (Guelfi Bianchi): liderados por Vieri dei Cerchi.
(9) ALIGHIERI, Dante. La Divina Commedia, Inferno, Canto XV, pag.384, 385, 386 e 392; Gruppo Editoriale L’Espresso SpA – La biblioteca di Repubblica; 2005




quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Os dialectos


Com a queda do Império Romano do Ocidente, a Itália foi um ponto de chegada para muitos povos como os germanos, gregos e bizantinos e, suas condições políticas e económicas mudaram profundamente. Todas as regiões e aglomerados populacionais começaram a viver uma sociedade fechada com, muito raro, contacto externo.
Desta forma, o latim usado entre o povo, antes unido, fora por modo de pronúncia se modificando, até constituir em varias línguas próprias de cada região, que pode ser subdividido em quatro: dialecto setentrional, dialecto centro-meridional, Sardo e Ladino. Todos eles derivados da cultura oral do latim. A forte diferença entre os quatro dialectos mostra uma Itália Medieval profundamente dividida.
Apesar de nos primeiros séculos da Alta Idade Média o latim voltar aos meios laicos europeus, nos finais do século XII perde sua força e interesse, se restringindo, como no principio da Alta Idade Media, ao meio eclesiástico, nas literaturas litúrgicas e no que tocava assuntos de chancelaria e documentos judiciais.


O dialecto de Florença

Como já referido, nos finais do século XII, início dos séculos XIII, Florença veio a adquirir grandes riquezas, investindo na cultura e sobretudo na alfabetização do próprio citadino, que podem ser considerados, nesta época, uns dos mais cultos do país. Nesta cidade se compreende que quantos mais instruídos sãos seus habitantes, mais reforço e potencialização comercial e económica traram para o benefício da cidade. Assim, os habitantes de Florença sabem se exprimir bem e, é neste contexto que se formam os comerciantes que viajam para toda a Europa, existindo o cambiador e, sobretudo o literário que fixa as regras da língua. Dante é um grande conhecedor da literatura e dos “falares” das línguas italianas. Aprende das várias línguas regionais os termos mais ricos e originais, que enriquecerá seu vocabulário. 


terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A Península Itálica na Baixa Idade Média


Formação e desenvolvimento das Comunas Italianas 


      
        Entre os séculos XI e XV, pode-se dizer que a Península Itálica permaneceu, na Europa Ocidental, em termos económicos, como um dos locais mais avançados de sua época. O comércio e o artesanato haviam sobrevivido as conjunturas da Alta Idade Média e a vida urbana não se extinguiu totalmente, como acontecera em muitos locais do resto da Europa, o que ajudou no seu rápido crescimento económico. O comércio de trânsito se desenvolveu a partir do século X, quando se viram livres das invasões Húngaras e mais tarde árabes e, foi ainda mais favorecida com o progresso económico que começara no resto da Europa Ocidental a partir do século XI, com uma procura cada vez maior de géneros provenientes do Oriente, fazendo crescer o processo de exportação através do Mediterrâneo. Também, o artesanato urbano conheceu um desenvolvimento intenso. De princípio, Veneza fora a principal cidade, conseguindo vasto privilégio comercial de Bizâncio, ultrapassando, assim, Amalfi e, em breve, o comércio interno da Península passaria para as zonas fluviais, em especial, para aquelas regiões banhadas pelo rio Pó.

Como em todo o restante território da Europa, as cidades do Norte e do Centro da Itália, foram em principio submetidas ao julgo senhorial, que com o contributo dos imperadores germânicos, desde Otão I, deram plenos poderes aos bispos – (maioritários senhores nesta parte da península).

Porem, como o melhor desenvolvimento das cidades estava ligada a liberdade em relação ao poder senhorial, a luta por este objectivo teve início no século X em Génova e outras cidades, tendo seu maior significado no século XI e XII, onde, na região da Lombardia apareceram as primeiras Comunas independentes: Lucca, Florença e outras cidades da Toscana.

Foram subjugando, ao longo dos séculos XI e XII, os grandes senhores que habitavam ao redor das cidades – Condado – e em seguida, alargaram seus domínios para as cidades vizinhas que tinham menos poder aquisitivo, fazendo nascer as cidades-estados sob poder da cidade maior.


As comunas urbanas eram administradas por colégios de cônsules eleitos ordinariamente por um ano, tendo poderes administrativos e legislativos. Os integrantes deste, eram representantes dos três grupos sociais urbanos: os notáveis – («capitães do povo»), os valvassore(1), e os mercadores ricos. Estes eram destacados pela sua riqueza ou posição social.

Esse Valvassore, residindo nos meios urbanos, começaram a se destacar nos negócios usurários, obtendo, no século XI, do Imperador Conrad II o privilegio de hereditariedade por linhagem masculina, ajudando no desaparecimento progressivo dos pequenos feudos e, no aparecimento de uma nova classe social nas cidades – os Cavaleiros – compostos por pequenos e grandes senhores feudais.

Dos séculos XII e XIII, as cidades italianas conheceram seu auge. As cruzadas proporcionaram novos portos de relação comerciais e ainda mais riquezas que vinham de todas as partes, incluindo, daqueles que seguiam para a Terra Santa. Primeiro as cidades do litoral, seguidas rapidamente pelas cidades do interior, empreendedoras do comercio artesanal. Florença ficara famosa, sobre tudo, pelos seus tecidos finos.

O desenvolvimento económico avançado nesta região da Europa Ocidental, também, levou a inúmeros conflitos causados por interesses comerciais entre Comunas. 


Interesses económicos levaram a que o Norte e Centro da Península Itálica, fossem palco de inúmeras batalhas entre estas cidades-estados, que só cessariam por um tempo, com vista a resistir a investida do Império Alemão. Constituiu-se assim a Liga Lombarda, para tentar abrandar os avanços de Frederico I. Porém, esta liga não contava com a integração de muitas cidades. Formaram-se partidos que apoiavam um poder autónomo, no qual repudiavam o poder central no Imperador – Guelfo (derivado do nome Welfs, inimigos dos Hohenstaufen na Alemanha), e o partido dos Ghibellino (derivado dos Weiblingen, nome de um dos castelos de Hohenstaufen), que apoiavam o Imperador como poder central.

Apenas mais uma razão de conflito para as cidades que queriam manter sua independência, contava, também, muitas vezes, com questões pessoais, arraigada no pensamento feudal, que as famílias que haviam se estabelecido na cidade traziam, como a tradição da “vendetta2. Estas mesma querelas pessoais que ajudaram na ascensão de um novo grupo social: os popalani(3) , que se uniram em sociedades e corporações para lutarem por interesses comuns e se apoderarem de cargos administrativos.


1 Valvassore eram nobres destacados de feudos.
2 Vendetta: Vingança particular que muitas vezes só terminava com o extermínio de um clã/família.
3 Popolani: força política dos artesãos e pequenos comerciantes.



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Florença, no século XIII.



No decorrer do século XIII, Florença, onde o artesanato era particularmente prospero, os popolani derrotaram os notáveis desde 1250, se apoderando da administração e criando no seio da “Grande Comuna”, uma “pequena comuna” com um “capitão do povo” a frente do poder. Florença passava a ser uma das mais ricas Comunas da Península. Era detentora do monopólio dos empréstimos feitos pela Cúria Pontifícia, ajudando no desenvolvimento da cunha da moeda de ouro e lei – Florim.

O «povo gordo», representantes das sete Artes Maiores(4), as mais ricas - tecelões e cambistas - concentraram, desde 1282, o poder em suas mãos. Das “Instituições da Justiça”, os grandes, vencidos, foram despojados dos seus direitos cívicos. De qualquer delito que cometessem, eram aplicadas altas multas, mesmo se fosse limitado por palavras arrogantes ou insolentes dirigidas às autoridades da cidade.

 Às camadas mais baixas da população, era negado o direito político.

Mais tarde, o conflito dentro da cidade tomou duas direcções: o «povo gordo» opunha-se aos grandes e, ao mesmo tempo, combatia o «povo magro», ligados as Artes Menores(5), expulsando-os do poder. 

Entre este conflito, como acontecia ao longo das outras cidades nestes dois séculos, Florença se debatia com a questão de sua independência e, o conflito entre os Guelfos e os Ghibellinos. Na segunda metade do século XIII, alianças são formadas entre cidades rivais ou com príncipes armados. A vitória é raramente total. Os exilados e o ciclo de violência disturba a cidade: aristocratas do lado Ghibellino, com o Imperador Germânico a cabeça, enquanto os Guelfos se pões ao serviço dos príncipes para tentar manter sua independência, encabeçado pelo governante espiritual, o Papa e um chefe militar: o rei da Sicília.

A oposição destes dois partidos, trás a tona ódios familiares e entre cidades. Desta forma, em Florença, os acontecimentos políticos entre aristocracia e povo eram camuflados pela segunda razão dos dois blocos rivais – (os Guelfos e os Ghibellinos).

4 Artes Maiores: ligadas a arte dos mercadores, do cambio, da lã, da seda, da pele, dos médicos, juízes e notários. 
5 Arte Menor: no total são catorze, que englobam os sapateiro, fabricantes, mestres de pedra e madeira, vinhateiros, albergueiros, ferreiros, marceneiros, etc.










quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Introdução

U ma península banhada pelo mediterrâneo, foi durante muitos século palco principal de uma evolução cultural que se estenderia por quase toda a Europa. Império unido, depois uma fragmentação que levaria ao afastamento das população de cada região e formação cultural independente de cada povo, marca o que cada comuna é e luta para permanecer a ser durante vários séculos.

Este blog tem como principal objectivo descrever a importância de uma das figuras mais importantes da literatura, nos finais da Iade Média: Dante Alighieri, tanto para a cultura europeia, como herança de um pensamento de um homem da Baixa Idade Media, e uma alavanca cultural literária que persistirá por toda a época moderna, como para a cultura, do que virá a ser, mais tarde, uma única nação, a Itália; como precursor da união e formação de uma língua – o italiano.

Para tal, começarei por uma explicação global sobre a formação das Comunas e seu estado politico, que fizera de uma cidade pequena, uma das cidades mais importantes e prestigiadas da Europa, como capital de uma finança, comercio, industria e, sobre tudo, um extraordinário laboratório de ideais artísticas e, para melhor entender a influência da formação ideológica de Dante, que o levará ao exílio e a criação esplêndida de suas obras. Sendo assim, no primeiro pontos, também englobará uma sintese de como se formou o dialeco de cada comuna, tendo como foco o Toscano. E é desta forma que entrarei na explicação da vida do autor em questão e de suas obras mais importantes, tendo em conta a ordem poética e, a ordem física e moral, que levará a uma melhor explicação às implicações de Dante no contexto político e religioso de sua época e a que o procede.